Para Você Meditar - Vote Em Mim

TAMBÉM QUERO SER DEPUTADO: VOTE EM MIM

                Meus queridos amigos e eleitores, eu também quero ser deputada. Não vejo razão nenhuma para que assim não se faça. Nada mais justo, apenas mais um e por que não?

                Digo logo, com pureza d’alma, que não pretendo fazer coisa alguma pela Pátria, pela Família (excetuando-se a minha, é claro) e pela Humanidade. Sou honesta, como se pode notar. Qualidade raríssima e indispensável a um bom parlamentar. Até porque se tentasse fazê-lo seria rigorosamente impedido pelos meus pares que apelariam para o bom senso. Afinal, não compete à Câmara, nem ao Senado salvar a Pátria, honrar a Família e dignificar a Humanidade, isso é lá com as Forças Armadas e a Igreja.

                Desta forma, para ser útil e justificar minha eleição, nada farei, a não ser receber o modesto salário de parlamentar, bem como aquelas insignificantes vantagens oficiais do cargo, abrindo mão, por honestidade e firmeza de caráter, daquelas oficiosas. Eis aí de forma clara e concisa meu sincero e generoso projeto de ação parlamentar, caso o preclaro eleitorado sufrague meu nome no próximo pleito.

                Acredito que assim estarei colaborando para o melhoramento da Pátria, da Família e da própria Humanidade. Explico. Percebendo aquele modesto salário de parlamentar e os demais subsídios oficiais (só os oficiais, repito), meu marido, meus filhos e demais parentes passarão melhor de cama, mesa, roupas, educação e moradia. Logo, ganham a Pátria e a Humanidade, isto porque sendo eles parcelas da primeira e da segunda a melhoria deles vai refletir no todo de que fazem parte. Nada mais lógico e mais singelo, nem o próprio Descartes ou Einstein ousaria rebater tão sólida tese sociológica.

                Assim, acredito que os meus eleitores concordarão que o meu propósito é justo, coerente e lógico, sendo certo que as razões apontadas para a minha candidatura são deveras ponderosas, sérias e robustas, sobretudo, pela aura de honestidade de que se revestem.

                No mais, gostaria de deixar bem claro, reafirmando minha férrea honestidade, que nada sei da história social, política, econômica e intelectual do nosso país; nada sei da sua geografia; não entendo qualquer migalha de ciências sociais ou disciplinas quejandas.

                Confesso também que quando passo defronte de certas mansões e ricos condomínios, cheios de luzes e carrões à porta, ciente de que aquilo não foi obtido apenas como fruto de honesto trabalho, tal espetáculo é demais tentador para a minha imaginação. Pergunto-me a quem o trabalho dignifica. Devo admitir que desejo ser deputada para também gozar desse paraíso de Maomé, sem experimentar a frialdade da sepultura, é claro.

                Como se pode notar, razões tão poderosas e justas, nenhum candidato jamais apresentou, até hoje. Assim, conto com a clarividência do nosso arguto eleitorado que tem dado mostras cabais de profundo saber político para que eu possa ocupar uma cadeira de deputada, por qualquer Estado, Município, Vila, Aldeia, Favela ou partido, porque nesse aspecto não faço a menor questão. Às urnas, meu povo!

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Jacqueline Lins